Foi há sete meses. E o tempo vôou um cadinho.
2015 foi um ano fulminante. Parece que só agora começamos a nos dar conta. Não tivemos férias, não paramos, não conseguimos refletir sobre tudo que vivemos nesse ano. Deixamos de lado os rituais de passagem. E foi aí que descobrimos como os rituais são fundamentais para recalibrar as energias, virar a página e reiniciar a caminhada.
Mas este post não é nada sobre isso…
É sobre uma primeira vez.
A primeira vez em que participamos de um festival de artes urbanas.
A primeira vez em que expusemos nossos Objetos de Desejo.
A primeira em que fizemos uma intervenção em outro cidade/estado.
A primeira vez em que viajamos, trabalhamos, dormimos, acordamos e comemos juntas por 10 dias seguidos. E acreditem, sobrevivemos a nós mesmas!
Meados de 2015. Enviamos dois projetos para o Festival Concreto de Artes Urbanas.
Outubro de 2015. Fomos selecionadas para irmos ao Cariri com o projeto Por onde anda a noite.
Novembro de 2015. Correrias, malas, desejos, sonhos e produtos rumo ao Cariri.
Cinco dias antes do embarque. Recebemos a notícia que não seria mais possível irmos ao Cariri – problemas com verbas governamentais.
Três dias antes do embarque. Mudanças de planos. Outra cidade, novas passagens, nova hospedagem. Tudo ainda embaralhado. Desejos Urbanos viaja rumo a Fortaleza.
Dias 23 e 24 de novembro de 2015. Chegamos em Fortaleza aos frangalhos. Eu as 8 da manhã do dia 23 e a Eliza as 3 da manhã do dia 24.
40º à sombra. Semana mais quente do ano. Em dois dias iniciamos a intervenção Por onde anda a noite na Praça Gentilandia, no bairro do Benfica. Não escolhemos a cidade, nem a praça, nada. Fomos escolhidas, encolhidas, engolidas e, por fim, nos deixamos ir.
Foi tenso, intenso, quente, cheio de estranhamentos, discussões, mergulhos profundos no concreto e em nós mesmas. Mas também com muitas bonitezas, encontros e reencontros, sorrisos acolhedores, descobertas e muita conversa. Por tudo isso tão difícil de escrever.
Em meio a esse entranhado de sentimentos construímos um céu no chão da praça de nome gentil. Conhecemos alguns de seus moradores que nos tagarelavam por horas a fio querendo saber quem éramos, de onde vínhamos, o que iríamos fazer… havia também uma vizinha muito simpática, que nos vendo pela janela de sua casa, nos ofereceu água e café quentinho, desses feito na hora, sabe? E ainda fomos salvas pelo querido seu Antonio, que guardou bem guardadinho nossos materiais em sua borracharia, ali mesmo ao ladinho da praça.
Dias compridos, exaustos, de um azul brilhante e um céu estrelado na praça.
Trabalho concluído, algum respiro e resolvemos voltar à praça para tirar algumas fotos. Era uma noite quente, a praça tomada por barracas, comida, música e gente! Devia ser um evento, mas ali entre as duas árvores havia um grupo de crianças pulando, percorrendo, brincando sobre um céu todinho estrelado. Foi bonito, bonito e tudo fez sentido.
Durante esses dias em Fortaleza realizamos também a intervenção Eu, passarinho no Centro Cultural Dragão do Mar, vendemos alguns produtos na Escola Opa! ainda pelo Festival Concreto e tivemos uma conversa muito rica com os alunos da disciplina Práticas Etnográficas: Arte e Cidade do curso de Antropologia da Universidade Federal do Ceará a convite da professora Glória Diogenes.
Uma primeira vez de muitas primeiras vezes e um tanto de aprendizados.
Por fim, queríamos fazer dois agradecimentos: primeiro a Fernanda Meireles pelo olhar sensível e por nos apresentar uma Fortaleza com encantos tão singulares e segundo, um agradecimento muito, mas muito especial a Sanny Bandeira, nossa amiga querida, nossa mãezinha cearense por nos ter acolhido com tanto carinho e nos proporcionado manhãs deliciosas com cheirinho de café, gosto de tapioca quentinha e muitas “conversas de mulherzinha” que tanto amamos.